Por Rui de Assis Vasconcelos
Mas afinal, qual o significado do termo desenvolvimento sustentável e por que as cooperativas de crédito devem se inserir neste contexto?
Ainda compreendido de forma heterogênea pelos agentes de mercado, trataremos o termo “desenvolvimento sustentável” como a promoção do equilíbrio entre o desenvolvimento econômico, social e ambiental. Essa é a definição que se alinha ao propósito da criação do termo utilizado pela primeira vez em 1997 e que tomou maior publicidade a partir de 2020 com a criação do termo ESG. O emprego das práticas ESG significa que a instituição busca as melhores práticas ambientais, sociais e de governança.
Ao definir o tema do Dia Internacional do Cooperativismo, 1º de julho de 2023, como “Cooperativas: parceiros para o desenvolvimento sustentável acelerado” a Aliança Internacional das Cooperativas – ACI trata de reforçar para a sociedade que o modo cooperativo de trabalhar, inspirado nos valores e princípios cooperativistas, tem como parte de seu DNA o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). O momento será de mostrar a contribuição das cooperativas e estimular as ações em direção ao atingimento dos objetivos definidos pela ONU até 2030, com a adoção das práticas ESG pelas empresas em todo o mundo.
Uma vez que a condução e a realização dos negócios pela cooperativa apresentem-se ancorados nos princípios cooperativistas, a cooperativa naturalmente alcançará a integração de sua atuação com as boas práticas ESG, favorecendo o fortalecimento da marca e a firme relação com seus associados. O vínculo dos princípios cooperativistas com as práticas ESG é apresentado em documento elaborado pelo SEBRAE.
Para que haja consistência entre a oratória e a prática, a cooperativa deve iniciar pela inclusão dos pilares ESG e dos vínculos dos ODS nas dimensões ou metas estratégicas definidas em seu planejamento estratégico institucional, sendo este o ponto de partida para a conscientização e engajamento de todo o público interno e externo no entono da cooperativa. Como regra de ouro para atingir a melhor aderência e solidez às diretrizes ESG definidas pela ONU é preciso que a administração da cooperativa enfatize, aplique, consolide e divulgue as boas práticas de governança empregadas no dia a dia dos negócios.
Exemplos não exaustivos de possíveis ações que devem ser empregadas pela administração das cooperativas são:
Da mesma forma que é para as demais empresas, independentemente do ramo de atuação, o sucesso das cooperativas está intimamente ligado à sua capacidade de atingir, simultaneamente, não somente o pilar da lucratividade (geração de sobras), mas também o compromisso com o desenvolvimento da sociedade. Dia após dia é necessário adotar práticas socialmente responsáveis e ambientalmente conscientes, de forma a construir uma imagem positiva, que conserve a reputação e a confiança dos associados, dos parceiros estratégicos e da sociedade em geral.
Sob o pilar ambiental, os recentes normativos editados pelo CMN, especialmente as Resoluções CMN nº 4.943 e 4.944/2021, estabelecem a obrigatoriedade da gestão dos riscos socioambientais que passaram a ser segregados em risco social, risco ambiental e risco climático. Importa que a cooperativa conheça as atividades de seus associados para adequadamente aplicar seus recursos e monitorar aqueles que atuem em setores com potencial impacto socioambiental, apresentando exposições relevantes em risco de crédito. De forma complementar, estabelecer políticas de financiamentos para negócios sustentáveis relacionados à economia verde.
Quanto ao pilar social, as ações devem ser voltadas para o público interno e externo. Podemos entender que nas cooperativas o público interno é representado por colaboradores e o público externo pelos associados, prestadores de serviços e comunidade em torno de sua área de atuação. Em relação ao público interno, evidenciam-se discussões de temas como diversidade, inclusão, saúde, segurança no trabalho, treinamentos e desenvolvimento das pessoas, além de maior envolvimento dos funcionários em inovação. Quanto ao público externo, especialmente na relação com os associados, os destaques são o acesso aos produtos, a confiabilidade das informações, a privacidade e segurança das informações e a efetiva participação em decisões. Para a comunidade em geral, podemos citar a educação cooperativista e as ações de inclusão financeira, portanto, destacam-se a efetiva adoção dos 5° e 7° princípios do cooperativismo – Educação, formação e informação e Interesse pela comunidade, respectivamente.
Por último o pilar governança, que representa elemento primordial para os demais pilares. As melhores práticas de governança são evidenciadas quando se apoiam em um conselho de administração atuante e em uma diretoria executiva tecnicamente capacitada. Serem efetivamente reconhecidos como representantes dos associados vai além da estratégia de gerar benefícios e atender às necessidades dos cooperados, a nova visão é de gerar benefícios sejam financeiros ou não à comunidade e ao planeta, é apoiar e incentivar a prosperidade das pessoas e dos parceiros da cooperativa, sem, contudo, transgredir as regras internas, sistêmicas e os normativos legais. É a partir da construção e divulgação de uma cultura e valores organizacionais pautados em transparência nas relações com o público interno e externo que a boa governança se consolidará.
Alguns desafios que se destacam para o cooperativismo financeiro estão relacionados à conscientização e educação de todos os participantes sobre a importância do tema ESG, que em determinadas situações requerem uma mudança cultural, ao aumento da concorrência, uma vez que instituições tradicionais apresentam elevada organização e maiores recursos na divulgação de suas práticas voltadas para o tema ESG, e a integração tecnológica que impõe questões como capacitação, investimentos, coleta e gerenciamento de dados.
O mapeamento e a compreensão dos desafios devem ser levados à discussão e tratados na elaboração do planejamento estratégico da cooperativa, pois a consolidação e as divulgações tempestivas das ações voltadas para o desenvolvimento sustentável são alicerces para ampliar os resultados dela, pois contribuem, por exemplo, para: atrair novos associados e parceiros, fortalecer a imagem e reputação, atrair novos talentos, identificar novas oportunidades de negócios, direcionar recursos para investimento em tecnologias sustentáveis, engajar funcionários e comunidade local, fidelizar associados e reduzir os riscos.
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